sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A greve que não decolou

O Globo
A greve que não decolou
Movimento sindical racha e, apesar de 24% de atrasos, caos não chega a aeroportos
Lino Rodrigues, Henrique Gomes
Batista e Gustavo Miranda

economia@oglobo.com.br

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA - Apesar das ameaças, a greve de Natal nos aeroportos brasileiros acabou não acontecendo. Embora, pela manhã, trabalhadores do setor aéreo tenham feito manifestação no Aeroporto de Congonhas (São Paulo), o movimento grevista perdeu força à tarde. As empresas aéreas melhoraram um pouco a proposta de reajuste salarial, fazendo com que os aeronautas, funcionários que trabalham a bordo dos aviões, fechassem um acordo. E os aeroviários, profissionais de terra, se dividiram e aprovaram paralisações no Rio, em Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e Brasília. Em outras cidades, no entanto, os sindicatos locais de aeroviários decidiram aceitar a proposta das empresas.

O principal impasse entre empresas e trabalhadores era o reajuste médio da categoria. Enquanto os funcionários pediam uma correção de 7% nos salários, as companhias propunham apenas 6,17%, que foi a variação do INPC. As empresas elevaram a proposta para 6,50%, o que acabou conquistando boa parte dos sindicatos, principalmente os aeronautas e aeroviários de grandes praças, como Recife e Porto Alegre.

A paralisação — parcial — ocorreu em Congonhas e no Galeão, Confins (MG), Brasília, Salvador e Fortaleza, no fim da tarde. Mas seus impactos foram reduzidos. Segundo a Infraero, 634 dos 2.567 voos domésticos previstos para ontem até as 21h atrasaram mais de 30 minutos. O percentual de 24,7% de decolagens com problemas, apesar de elevado, foi menor que o de 22 de dezembro de 2010: 38,4%. Em alguns terminais ele foi superior a 50% (Navegantes- SC) ou próximo disso (Congonhas, com 44,7%). No Rio, os atrasos atingiram 32 voos no Santos Dumont (20,3%) e 24 no Galeão (15,2%).

Aeroviários fazem piquete no Galeão

● O Sindicato Nacional dos Aeroviários, com sede no Rio, deu início a greve no Aeroporto do Galeão impedindo a entrada de funcionários que deveriam assumir seus postos às 18h. Segundo a presidente do sindicato, Selma Balbino, o início do movimento de greve, previsto inicialmente para as 23h, foi antecipado para as 16hde ontem. Assim, a categoria ficaria livre de cumprir a liminar do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que decidiu, na quarta-feira, pela obrigatoriedade de 80% do efetivo estar trabalhando sob pena de multa no valor de R$ 100 mil diários para os sindicatos.

— A liminar fala sobre greve nos dias 23 e 24. Para o dia 22, que é hoje, estamos liberados — disse Selma, que reconheceu que ficaria difícil manter o movimento grevista no dia de hoje, e que disse que muitos trabalhadores foram coagidos a trabalhar e dobrar o turno: — As empresas conseguiram que a Infraero liberasse portões irregulares para entrada de funcionários, que não tem sequer aparelhos de raios X.

A Infraero não se manifestou sobre as denúncias de irregularidades e nem sobre o impacto do movimento no terminal. Mas mesmo assim o transtorno causado não foi tão grande. Por volta das 18 horas a gaúcha Alexandra Borges decolou do terminal para Porto Alegre, sem maiores complicações:

— Houve apenas uma demora um pouco maior do avião em solo, de uns 20 minutos. O piloto da Gol avisou que o atraso era pela falta de pessoal para embarcar as malas — disse.

A paralisação de um grupo de trabalhadores de pista logo no início da manhã causou transtornos aos passageiros e afetou as operações das companhias aéreas em Congonhas durante todo o dia de ontem. Por volta das 7h, cerca de 50 funcionários da TAM, que trabalham no apoio em terra, cruzaram os braços, tumultuando a cadência de pousos e decolagens que geraram longas filas e discussões entre passageiros e funcionários das empresas, prejudicando centenas de passageiros. Muitos atendentes dos balcões da TAM foram convocados para ajudar no transporte de malas, e outros foram deslocados para dar apoio a outras operações de pista. Com isso, faltou pessoal para orientar e informar os passageiros, que queriam saber o que estava acontecendo. Foi o caso do supervisor de engenharia Fábio Delli, que tinha bilhete marcado para Brasília às 8h30m, mas teve o voo cancelado e remarcado duas vezes. Com reunião agendada para às 10 horas, ele desistiu da viagem.

Na tarde de ontem, uma audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT-SP) reuniu representantes dos Sindicato dos Aeroviários do Estado de São Paulo e do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea). Mas não houve acordo. Os sindicalistas não aceitaram os 6.5% oferecidos pelas empresas que, por sua vez, não concordaram em pagar os 7% sugeridos pelo TRT. Assim, o desembargador Jonas Santana de Brito condicionou qualquer paralisação nos aeroportos paulistas à manutenção de 80% dos postos de trabalho ocupados, sob pena de multa diária de R$ 100 mil.

O sindicato adiou para a próxima segunda-feira a assembleia, que havia marcado para às 17 horas de ontem, para avaliar a proposta das empresas e definir se adere à greve ou não. Reginaldo Alves de Souza, presidente do sindicato, disse que a exigência do TRT inviabiliza o movimento ontem:

— As manifestações que ocorreram hoje (ontem) podem se repetir na semana que vem. Não descartamos uma greve — ameaçou Souza.

Em Viracopos, em Campinas, manifestações também causaram atrasos e cancelamentos de voos. Em Brasília, apesar do sindicato ter anunciado greve no terminal, não se percebia maiores problemas na noite de ontem, apesar do movimento intenso

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